Como passar os Casos Clínicos para o professor?
Na prática diária entre os residentes e internos é preciso saber passar bem casos clínicos para seu professor ou preceptor.
Na faculdade, raramente é ensinado como se deve ser feito, e normalmente é algo que se pega com o tempo.
O professor apenas pede para você contar a história e BAM!
Por isso resolvemos dar uma ajuda!
Por onde começar? Citar tudo que o paciente negou? Esqueci um dado, o que fazer? Estamos aqui para ajudar você para já chegar no internato preparado e tirar onda no ciclo clínico explicando direitinho e o que importa para o professor.
Importante ressaltar que a forma de passar o caso pode mudar entre os professores. Alguns preferem iniciar pela lista de problemas. Isso se dá mais em enfermarias, quando o professor já conhece o caso. O mais comum, entretanto, é contar a história do paciente e depois discutir os possíveis diagnósticos.
Vale lembrar que dados da identificação podem ou não estar presentes. Por exemplo, você normalmente não precisa dizer a religião do paciente, mas isso pode ser relevante no caso de ele precisar de transfusão sanguínea sendo testemunha de Jeová.
Confiança é essencial nos casos clínicos!
A palavra da vez é: CONFIANÇA! Ninguém gosta da pessoa que passa o caso falando baixo e sem ter certeza do que está falando. Fale alto, claro, pausadamente, de forma organizada, cronológica e passe certeza no que diz. Você não precisa saber tudo sobre a doença do seu paciente se você acabou de colher a história, mas você precisa saber tudo sobre o seu paciente.
Anamnese
Para isso, claro, você tem que ter feito uma anamnese completinha, já ter levantado algumas hipóteses diagnósticas e fazer perguntas cruciais para a história. Caso o professor te pergunte uma coisa que você esqueceu de perguntar? Não enrole e não invente, o paciente vai te desmentir na primeira oportunidade. Diga a verdade: “Esqueci de perguntar, mas vou verificar isso.”
Colheu a anamnese certinha? Tá confiante? Então vamos lá:
A primeira frase deve ser: Nome do paciente, idade, gênero, procedência e sua queixa principal. Aqui também deve entrar características que mudam completamente o quadro, como: Portador de HIV, transplantado.
Primeiro Parágrafo nos caso clínicos: CLEARAST
Descreva as características da queixa principal. Usamos o acrônimo CLEARAST:
Característica, qualidade
Localização
Exacerbadores
Aliviadores
iRradiação da dor
Associação de sintomas
Severidade do sintoma
Temporalidade: início (agudo, insidioso), intermitente ou constantes, duração, frequência, progressão
Fale para o professor o tempo e as características exatamente como lhe foram ditos, sem alteração.
Segundo Parágrafo nos casos clínicos, o que é relevante!
É o conceito mais abrangente e por isso, muitas vezes, o mais difícil de se administrar: Diga apenas o que é relevante para a história. Isso você pega com o tempo.
Muitas vezes aqui podem entrar questões psicológicas que passariam despercebidas mas que se encaixam muito bem com a agudização do quadro, por exemplo. Importante se atentar a contar a história clínica do paciente, e não sua história pelas unidades de saúde.
Terceiro Parágrafo nos casos clínicos: Ações adotadas e respostas obtidas
O que foi feito anteriormente sobre a patologia, e a resposta obtida. Você talvez não precise desse tópico, mas se pode ajudar no diagnóstico diferencial ou entender o curso do tratamento, diga.
Interrogatório sistêmico:
NÃO FALE ”interrogatório sistêmico”. NÃO LISTE nada na revisão de sistema. Qualquer coisa que você tenha achado relevante no IS vai no segundo parágrafo.
As outras coisas:
Antecedentes Pessoais, Exames, Medicamentos, Alergias, Hábitos, História Biopsicossocial, Antecedentes familiares. Passe por isso rapidamente, fale quando for perguntado. A maioria das vezes acaba não tendo muita relevância. Diga, por exemplo, se tiver uma colonoscopia e você estava pensando em câncer colorretal.
Exame Físico
Vitais: Diga os números e não se está estável ou dentro dos limites.
Físico: Vá de cima para baixo, mas:
Diga apenas o que pode mudar o diagnóstico diferencial
Positivo se presente e deveria estar presente
Negativo se não está presente mas deveria estar
Faça um exame físico minucioso e escreva ele, mas não precisa dizer tudo, apenas os dados positivos.
Diga suas hipóteses diagnósticas e o porquê delas.
Diga os planos diagnósticos e terapêuticos.
Acrônimo SNAPPS
Para ajudar nas discussões de caso, A Preceptoria da Disciplina de Clinica Geral e Propedêutica da Faculdade de Medicina da USP criou um material para auxiliar a discutir os casos. O acrônimo SNAPPS, originalmente criado para atendimento ambulatorial, serve para diversos contextos. E o que significa?
S: Sumarizar. Aqui é onde você vai resumir a história e trazer os dados do exame físico (No caso, praticamente tudo que foi descrito anteriormente). Lembre-se de usar termos técnicos e diminuir uma “falta de ar que acontece no meio da noite e ele tem que levantar” para uma “dispneia paroxística noturna”
N: Numerar. Levante 2 ou 3 diagnósticos ou problemas possíveis. Lembre-se em focar nas hipóteses mais comuns e não nas raras.
A: Analisar: Proponha as evidências no seu exame que te fizeram pensar nesses diagnósticos. É comum você já juntar esse tópico com o anterior. Esse processo permite que o professor ou preceptor perceba o conhecimento que você tem no assunto.
P: Perguntas. Sua hora de tirar todas as dúvidas. Mostre interesse no caso.
P: Planejar. Nessa parte você vai fazer o planejamento diagnóstico e terapêutico. Utilize o que foi discutido anteriormente e descreva os próximos passos a serem seguidos.
S: Selecione. Escolha um tópico desse caso para o estudo individual. Você fixa muito mais o conhecimento que viu na prática do que apenas ler no livro ou assistir vídeos. Selecione corretamente o assunto a ser estudado, por exemplo, o uso de determinada medicação em uma doença, do que estudar a enfermidade inteira.
Exemplos:
Aqui trouxemos dois exemplos, um adequado e outro inadequado:
Adequado : Sr José é um homem com 50 anos de idade, acompanhado há 3 anos por DPOC, tabagismo, diabetes mellitus e revascularização miocárdica, após infartos. Há 3 dias iniciou tosse e febre e foi admitido hoje (…)
Inadequado: Sr José é um homem com 50 anos de idade, branco, casado, evangélico, natural de Pernambuco, morador do Rio de Janeiro há 34 anos. Acompanha por DPOC há 3 anos, ainda é tabagista e está em fase de contemplação; tem diabetes mellitus que é bem controlada com uso de metformina apenas; teve um infarto miocárdico em 2005 e outro em 2009, quando fez revascularização miocárdica sem intercorrências. Veio agora por tosse e febre no sábado (…)
O que fazer?
Evite informações que não sejam pertinentes para o quadro atual dele, se concentre nos dados mais relevantes para o momento (você terá isso tudo descrito na sua anamnese). Além disso, evite utilizar um dia da semana como referencial de tempo, utilize o dia da admissão como uma referência.
No dia-a-dia nada é tão engessado e pode mudar a ordem entre alguns preceptores, mas essencialmente é assim. Isso você pega com a prática, discutindo muitos casos e atendendo pacientes. Por fim, lembre-se sempre de após pegar um caso, estudá-lo no mesmo dia para fixar melhor o conhecimento.
Por que estudar por Casos Clínicos?
Estudar por casos clínicos é uma das melhores formas de colocar em prática o conhecimento adquirido na faculdade, principalmente no ciclo básico.
Nesse período muitos estudantes tem dificuldade de visualizar a aplicação dos conteúdos. Por isso, nada melhor do que utilizar os casos clínicos para facilitar a compreensão e o entendimento da importância destas matérias nesse período.
Como se manter motivado e estudar durante o ciclo básico!
Além disso, se você quer estar preparado para as situações e casos reais que irá encontrar no internato, é essencial ter repertório e já ter visto diversos casos clínicos.
Afinal, hoje em dia muitas faculdades já adotaram o método PBL (Problem Based Learning) justamente pra preparar o estudante melhor para as necessidades do ambiente de trabalho.
É importante ressaltar também a importância da resolução dos Casos Clínicos para o desenvolvimento de uma das mais necessárias habilidades médicas: o Raciocínio Clínico!
Como desenvolver o seu Raciocínio Clínico?
O raciocínio clínico (RC) é o processo usado pel@s médic@s para refletir e planejar o tratamento do paciente, ou seja, é a tomada de decisão.
O RC serve para orientar e conduzir da melhor maneira possível o tratamento do paciente.
No entanto, nem sempre é fácil entender como esse raciocínio será utilizado durante a vida profissional ou desenvolvê-lo.
Muitos estudantes e profissionais recém-formados têm medo de não conseguir fechar um diagnóstico, por exemplo. Por isso, desenvolver o raciocínio clínico é tão importante. Mas como praticar?! A melhor forma é realizar os exercícios práticos de casos clínicos.
O raciocínio clínico depende muito da integração entre o conhecimento teórico e o prático do profissional. Por isto, é fundamental consolidar o conhecimento teórico dos livros e de artigos com evidências científicas, reavaliação do aprendizado em sala, resolução de casos clínicos e muita atenção no campo de estágio e/ou residência.